Em uma tarde qualquer do mês de janeiro, em uma visita à minha mãe, entre uma conversa e outra, ela disse: Ah, sabe quem perguntou por ti?, e sem me dar tempo de responder, logo completou, o Kennedy.
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Meu amigo John Kennedy (Foto: Reprodução/Salomão Larêdo) |
Bem, Kennedy era o filho do seu Maia, que era dono de uma mercearia localizada bem em frente à minha casa quando criança. Era meu vizinho e um de meus amigos de infância e das brincadeiras de rua. Brincávamos de bola, peteca, pião, pira, empinávamos papagaio e todas aquelas brincadeiras saudáveis tão raras nos dias de hoje. Não tínhamos vídeo-games mas nos divertíamos como ninguém. Não ouvia falar no Kennedy desde que me mudei do bairro da Pedreira e lá se vão mais de vinte anos.
Curioso e surpreso por ele ter lembrado de mim, perguntei: Onde a senhora falou com ele? O que ele está fazendo? perguntei. O encontrei na rua, ele agora é apanhador de manga, fica apanhando manga pra vender nas feiras. Me reconheceu, ofereceu umas mangas e trocamos algumas palavras e perguntou por ti, disse minha mãe encerrando a conversa.
Dias depois, eu estava indo para o trabalho, distante aproximadamente 15 km de casa, enfrentando aquele engarrafamento tradicional de Belém que me obriga a percorrer essa curta distancia em aproximadamente uma hora e quinze minutos diariamente. Ao parar no semáforo do cruzamento da Av. Gov. José Malcher com Tv. 9 de Janeiro, avisto mais a frente um rapaz com um carro de mão e uma vara de bambu apanhando manga. Inevitável lembrar da conversa com minha mãe dias atrás.
Eu não estava certo de que era o Kennedy, mas queria que fosse. Fiquei olhando atentamente tentando reconhecer uma semelhança, um gesto ou qualquer outra característica que me fizesse ter o mínimo de certeza que era ele mesmo. Eu não poderia simplesmente parar ali naquela avenida movimentada, descer do carro e ir perguntar se ele era o Kennedy. Eu tinha que pensar em algo rapidamente. Afinal, faltavam poucos segundos para o sinal abrir.
O sinal ficou verde. Arranquei, e à medida que me aproximava, procurava olhar ainda mais atentamente até que já estava praticamente em cima dele. Então abri o vidro da janela, coloquei o braço pra fora, acenando insistentemente e gritei olhando para ele: "Faaaaala Kennedy", na esperança que realmente fosse ele.
A partir daí, aquele segundo de tempo pareceu ter ficado em "câmera lenta". Consegui observá-lo se virando para a direção da rua, procurando o som que tinha chegado em seus ouvidos com seu nome. Finalmente ele me viu, abriu um sorriso e gritou enquanto eu passava a 60 km/hora: "Faaaaaala Açaiiiiiiii".
Ganhei o dia. Agora sim eu tinha certeza, era o John Kennedy, meu amigo de infância.
Uma curiosidade: Quando eu estava procurando uma imagem de apanhadores de manga para ilustrar essa postagem, encontrei justamente uma foto do John Kennedy em uma postagem do Salomão Larêdo, que o entrevistou em 2012. Veja:
John Kennedy Apanha Mangas em Belém.