06 maio, 2012

Pague um café a um amigo

Como vocês sabem, gosto muito das conversas que tenho com os amigos, e uma conversa em particular  lembro sempre.

Há alguns anos, fui prestar consultoria para uma grande empresa nacional. Essa consultoria levaria aproximadamente um mês inteiro. Fiquei hospedado em um hotel na cidade e minha rotina se resumia a sair cedo para sede da empresa, onde passava o dia e voltava no início da noite para o hotel.

Foi em uma noite dessas que reencontrei um amigo que não via há anos e que coincidentemente também estava prestando consultoria para essa mesma empresa e hospedado no mesmo hotel.

Nos encontramos no restaurante do hotel. Jantamos juntos e como não nos víamos há algum tempo, resolvemos colocar os papos em dia. Após o jantar, ele falou: - Posso te pagar um café? E antes que eu esboçasse qualquer reação de aceitação ou de recusa ele emendou: - Por favor, faço questão de te pagar um café. Aceitei.

Trocamos de mesa e ele pediu um café para nós dois. Então ele começou a me contar uma bela história. Acompanhem.

Sabe Açaí (não me chamavam de Açaí naquela época), uma vez eu estava em uma viagem internacional de trabalho e entre um voo e outro eu parei em um Café de um determinado aeroporto,  sentei no balcão e pedi um café.

Eu estava ali tomando meu café quando de repente sentou-se ao meu lado, no mesmo balcão, um senhor de cabelos brancos, forte, muito bem vestido, estava só e parecia uma pessoa comum. Sua presença ali não chamou atenção de ninguém ao seu redor.

Mas eu com um olhar mais atento e cinéfilo como sou, logo o reconheci. Era simplesmente o Charles Chaplin.

Fiquei perplexo, extasiado, alegre. Não conseguia tirar o olho daquela pessoa que estava ali a menos de um metro de mim. Um dos maiores gênios do cinema mundial. Passaram aproximadamente três minutos até que alguém viesse atendê-lo.

Nesse meio tempo pensei milhares de coisas. Pensei em pedir um autógrafo, puxar um papo, mas o que eu mais quis fazer mesmo foi me oferecer para pagar um café a ele. Mas, fiquei tão perplexo com a situação que não fiz nem uma coisa nem outra. O atendente chegou e ele pediu um café.

Ficou ali por aproximadamente dez minutos tomando o seu café e depois foi embora.
Alguns anos depois (segue ele contando a história), eu estava em minha casa já no Rio de Janeiro e assisti uma entrevista que o Charles Chaplin concedeu à uma rede de televisão americana. E uma coisa na entrevista me marcou muito.

O repórter perguntou ao Chaplin:
- O senhor parece ser uma pessoa de hábitos simples. O que o senhor mais gosta de fazer no dia a dia?

E Chaplin respondeu:
- Eu gosto de tomar café. Acho o máximo quando estou em algum lugar e uma pessoa se aproxima e se oferece para me pagar um café.

Nesse momento meu amigo ficou em silêncio e pude ver lágrimas em seu rosto.

Depois de algum tempo ele levantou o rosto, me olhou, segurou meu ombro e disse:
- Que bom que você aceitou o meu café.

Chorão que sou, não poderia perder a oportunidade e choramos juntos para sempre.